Sucessos e desastres da inclusão de pessoas trans no gaming

imagem de Isaac, tubarão, uma personagem trans no jogo Rainbow Six Siege. Inclusão de pessoas trans no gaming.

A Ubisoft está de parabéns pela inclusão de pessoas trans no Gaming!

Neste caso, no jogo “Rainbow: Six Siege” no seu mais recente lançamento da “Operation Deep Freeze”

Segundo a história do jogo, o personagem Isaac Oliveira, mais conhecido como Tubarão, é português! Nasceu nos Açores, em Ponta Delgada, e foi lá que aprendeu a trabalhar em equipa. O nome Tubarão foi-lhe dado por encontrar no oceano a tranquilidade que precisava. 

Esta personagem, Isaac/Tubarão, não é a primeira personagem trans que o jogo inclui. Mas é a primeira personagem trans de nacionalidade portuguesa que o jogo inclui. Já em 2021 a Ubisoft, empresa francesa, havia lançado a primeira personagem trans do jogo, chamada Osa, uma mulher trans. Simon Ducharme havia explicado a sua importância: 

…eu queria que Siege tivesse uma mulher trans da qual as pessoas trans na comunidade do nosso jogo pudessem se orgulhar.e acrescenta: queria criar alguém para representar, e mostrar o meu amor por, todas as mulheres trans que admiro e respeito.”

 

A decisão de incluir uma personagem trans não foi tomada de animo leve e obteve o importantíssimo contributo da comunidade LGBTQI+. A TransParente sabe que a Opus Diversidades, uma das mais antigas associações LGBTQI+ em Portugal, esteve por detrás do processo de consultoria, tendo envolvido duas pessoas trans no mesmo. Isso são são verdadeiras práticas de inclusão!

 

Porque é importante a inclusão de personagens trans?

Incluir pessoas trans só porque sim não é uma boa política, seja para que empresa for!
Não adianta de muito dizer que se cria uma personagem trans sem se ponderar bem no que se está a fazer. Não só se pode cair no desastroso erro de reforçar estereótipos, como a tentativa pode rapidamente virar-se contra a empresa. 

Se seria bom que todos os jogos tivessem pelo menos uma personagem trans? Seria! Porque na realidade o dia-a-dia das pessoas passa por encontrar pessoas trans nas mais comuns tarefas da vida diária (ir ao supermercado, ir ao hospital, conversar com alguém no autocarro, ter uma nova pessoa trabalhadora na empresa, etc), ainda que muitas não se apercebam desse facto!

Mas não é sobre incluir uma personagem trans em todos os jogos, é sobre verdadeiramente saber incluir quando se quer fazê-lo! A verdade é que algumas tentativas de inclusão de pessoas trans no gaming falharam redondamente. 

 

Grandes erros na Inclusão de pessoas trans no Gaming

 

É importante referir estes exemplos de forma a evitar novas tentativas falhadas de inclusão de pessoas trans no gaming. Deixamos-te alguns nomes, uns mais conhecidos que outros:

  • Grand Theft Auto – na versão do GTA 5 foram encontradas diversos estereótipos e piadas depreciativas sobre personagens drag queens e outras personagens trans trabalhadoras do sexo. Mais tarde, a empresa Rockstar acabou por retirar essas passagens do jogo.  
  • Cyberpunk 2077 – apesar do jogo ser inclusivo das identidades de género, e permitir até a escolha de vozes para a personagem criada, independentemente do género, o jogo foi criticado por continuar a fetichizar as mulheres, e neste caso as mulheres trans, em outdoors que foram usados como parte de marketing real do jogo.
 
Mas nem tudo são más escolhas! Nomes como Dragon Age: Inquisition, Watch Dogs e Tell Me Why são alguns nomes que destacamos e que conseguiram com sucesso incluir personagens trans sem o cometer esses erros. 
 
 

Que níveis de inclusão de pessoas trans podem existir num jogo?

Bem, podemos falar de vários níveis de inclusão para as quais qualquer empresa relacionada com a criação de videojogos pode ponderar:

 

  • Consultoria para a inovação

Apoio na criação de cenários de jogo, histórias de jogo, narrativas de jogo, criação de personagens e das suas histórias de vida, opções que vão além da cisheteronormatividade no jogo, etc.

 

  • Assessoria e Consultoria para a Comunicação

Todas as vertentes de uma estratégia ou plano de comunicação de um jogo devem ser vistas! Para não cair nos erros como no GTA 5 referido acima que sexualizava mulheres trans nos outdoors publicitários. Todos os aspetos de uma comunicação, seja interna, seja externa têm de ser analisados. Como vai ser publicada a informação? Que informação deve ser incluída na comunicação e como? Que elementos gráficos vão ser usados? Que escolha de palavras vai ser usada? Tudo tem de ser pensado e cuidado.
 
  • Inclusão de vozes de pessoas trans em personagens trans:

Tal como o transfake acontece muitas vezes no teatro e na representação artística, porque não dar a oportunidade a pessoas trans para fazerem as vozes de personagens trans em videojogos? 

 

  • Inclusão de valores sociais de respeito pela diversidade sexual e de género:

É importante que a empresa criadora do jogo tenha em atenção que valores quer perpetuar na sociedade. É sabido que os jogos têm um profundo impacto na forma como vivemos a nossa vida e na forma como vemos o mundo. Por isso, é da responsabilidade social das empresas criar jogos que sejam promotores de valores de respeito pela diversidade.

Saber como não perpetuar estereótipos, preconceitos, estigma, discriminação e exclusão contra pessoas LGBTQI+, e em particular contra pessoas trans é essencial para o combate à transfobia.

 

  • Representação e visibilidade:

A inclusão deve ser, cada vez mais, interseccional. As identidades trans podem conter uma série de outras identidades interseccionais. Por exemplo, uma mulher trans negra e com deficiência será uma personagem ainda mais inclusiva do que apenas um homem trans. Isto porque, historicamente, as mulheres são um subgrupo mais excluído do que os homens. 

Se a isso acrescentarmos a cor de pele, não é novidade para ninguém que a inclusão de pessoas negras nos jogos ainda é escassa, principalmente a de qualidade e não aquela que perpetua estereótipos e preconceitos contra as pessoas negras (como o caso do jogo Grand Theft Auto acusado de ter polícias racistas consoante certas áreas do jogo).

As personagens com deficiência são igualmente muito pouco representadas e visíveis nos videojogos, por isso uma personagem trans que seja, por exemplo, surda é uma personagem mais inclusiva do que uma personagem trans sem deficiência.

A realidade é que estas identidades existem dentro da comunidade trans e merecem ser igualmente reconhecidas e visibilizadas.

 

Na verdade, estes pontos aplicam-se a qualquer setor empresarial, não só no gaming!

 

Como conseguiram algumas empresas acertar na inclusão de pessoas trans no gaming?

 
A resposta é apenas uma: inclusão de pessoas trans no gaming

Certamente já deves ter ouvido a frase “nada sobre nós sem nós” e, de facto, não podia fazer mais sentido. Para uma boa inclusão de pessoas trans em qualquer mundo, e neste caso em particular, no gaming, nada como consultar com organizações, projetos ou pessoas trans como especialistas em inclusão. É através do diálogo com essas identidades que se consegue verdadeiramente criar algo que as represente e dê visibilidade de forma positiva, empoderada e respeitadora.

Se trabalhas em empresas que pertencem ao ramo do gaming ou que de alguma forma colaboram com esse ramo, e gostavas de explorar esta hipótese, fala conosco!

Se há um jogo que adoras e onde gostavas de poder criar ou visualizar  uma personagem trans, envia essa mesma sugestão para a empresa criadora do jogo e menciona a TransParente como uma potencial parceira nesse projeto.

O jogo “Rainbow Six Siege” está disponível na PlayStation 4 e 5, XBox One, S e X, Microsoft Windows, Google Stadia e Amazon Luma. Custa 29,99€.

 

Gostas deste conteúdo?

Deixa-nos os teus comentários e apoia o nosso trabalho.

Autor

Uma resposta

  1. Ainda no ano passado, a Ubisoft introduziu uma personagem não binária, Mihaly, dentro do Just Dance 2023 Edition. Agora estão a continuar com o Just Dance 2024 Edition. 🕺

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Partilhar

Explorar mais