Pesquisamos na google, perguntámos ao Chat GPT e à velhinha wikipédia, verificamos artigos em sites LGBTQI+ e fizemos scroll no Instagram em busca de pessoas LGBTQI com deficiência em Portugal e não encontramos.
Será que isso quer dizer que não há pessoas LGBTQI com deficiência em Portugal?
Não. Mas pode significar duas coisas:
1. Ou não percebemos mesmo nadinha de pesquisa (provavelmente é esse o caso)
2. Ou não existem pessoas LGBTQI com deficiência em Portugal que tenham dado a cara, publicamente, até então (por diversos motivos pessoais, sociais ou políticos).
Portanto, que há, há…
Como é óbvio, sabemos que há pessoas com deficiência que são LGBTQI, tal como sabemos que há pessoas LGBTQI com deficiência! Passo a explicar o porquê da repetição.
Algumas pessoas afirmam que é bastante complicado serem pessoas LGBTQIAP+ e com deficiência, pois acabam por sofrer dupla discriminação.
– primeiro porque assim que percebem ou sabem que tenho uma deficiência “as pessoas tendem a adotar uma postura de pena quando percebem que tenho uma deficiência, ou então a dar-me graxa demais como se eu fosse uma pessoa super especial, e só servisse para amizade”.
– segundo porque “se conto sobre a minha orientação afetivo-sexual, parece que ficam escandalizadas, como se de repente eu fosse o demónio, alguém que não devesse ter orientação nenhuma ou atração por ninguém, ou muito menos alguém capaz de ter relacionamentos amorosos.”
Há ainda aquelas pessoas que ou só veem a deficiência, ou só veem a orientação, pois parece que as duas juntas não combinam. Mas espera, lê bem o que algumas pessoas com deficiência passam nos seus encontros.
Não há tesão que resista!
A coisa não fica por aqui. No mundo dos encontros amorosos ou sexuais, para algumas pessoas LGBTQI+ com deficiência, a coisa pode ser ainda mais complexa, pois passam por todo o tipo de interrogatório para validarem a sua orientação ou identidade de género. Sem esquecer claro, das perguntinhas da praxe que muitas pessoas com deficiência recebem e que mais parece uma entrevista médica ou de trabalho:
“O que te aconteceu?”
“Já nasceste assim ou aconteceu?”
” Tens alguém que cuida de ti certo?”… “ou que te limpa?”
Não há tesão que resista, certo?
As pessoas com deficiência, seja física, neurodivergente, emocional ou psiquiátrica, sensorial ou ainda não diagnosticada, não querem falar sobre a sua deficiência no primeiro encontro. Não querem ser bombardeadas com perguntas médicas, estúpidas ou desnecessárias que quebram qualquer tipo de clima romântico ou sexual. Bem, talvez algumas até não se importem de algumas perguntas, mas sempre?
As pessoas LGBTQI+ com deficiência também querem falar sobre música, afinidades, comida, família, desporto, atualidade, política, cultura, outros interesses e também de discordâncias. As coisas típicas de primeiros encontros!
“mas se não consegues levantar…como é que fazes?”
“se nunca tiveste relações com ninguém como sabes que és lésbica?”
“alguma vez pagaste para ter…tu sabes…”
“quase não deves ter sexo não é… deves a morrer por dar uma!”
Todas as pessoas, heterossexuais ou homossexuais, deveriam ser menos focadas nos órgãos genitais. Deveriam saber que não é preciso haver penetração para haver sexo ou prazer. Que sexo e prazer é algo tão diverso quanto as orientações e identidades. Deveriam saber que se nenhuma pessoa heterossexual precisa de ter sexo com alguém de género diferente do seu para saber que é heterossexual, também nenhuma pessoa LGBTQI+, com ou sem deficiência, precisa de ter sexo com outra LGBTQI+ para o saber.
Mas se as pessoas LGBTQI com deficiência existem, onde estão?
Lançamos-te agora o desafio
Procuramos pessoas LGBTQI com deficiência!
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Queremos mostrar que as pessoas LGBTQI+ com deficiência existem!
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Referências usadas:
Experiência - relato de uma pessoa LGBTQI+ cuja identidade é confidencial
4 Responses
Basta olhar para esta questão de forma lógica se tanto as pessoas com deficiência assim como a comunidade LGBTQI+ constituem uma minoria é normal que não estejam assim tão presentes no nosso quotidiano no entanto torna-se óbvio que estas pessoas existem. Esta questão está também muito relacionada com o conceito de interssecionalidade e matriz dominante, estes conceitos (para quem tiver interesse) estão bem explicados num livro chamado: “ Design Justice: Community-Led Practices to build the worlds we need”, escrito por Sacha Costanza-Chock, uma mulher trans negras e professora do MIT. Outras autoras interessantes de ler sobre o assunto são bell hooks e Angela Davis.
Agradecemos o comentário. De facto a interseccionalidade é a perspectiva chave.
Que bom que nos enriqueces o conhecimento com a sugestão do livro.
this site is very good, congratulations
muito bom esse site parabéns
Agradecemos mais uma vez Maicon!