Sabias que uma organização Pink Washer, nunca será Inclusion Rider?

Uma imagem com dois astronautas no espaço, cheio de estrelas. Texto: Sabias que uma organização pink washer nunca será Inclusion Rider?

O chamado mês do orgulho LGBTQI+ está de novo aí. No mês de junho, as empresas e outras organizações fazem de tudo para ganhar visibilidade e seguidores, enquanto as pessoas que nelas trabalham relatam a contínua existência de micro-agressões, insatisfação e isolamento no trabalho.

Será que a empresa ou organização onde trabalhas é uma Pink Washer? Continua a ler e descobre como podes mudar esta realidade.

Neste artigo vais saber mais sobre:

 

 

O que é uma organização Pink Washer?

Antes de explicarmos o que se trata ser “pink washer”, tenta pensar se a tua empresa adotou alguns dos seguintes passos abaixo:

  1. Colorir o logo com as cores do arco-íris, mais conhecida como “rainbow pride flag”, ou bandeira do orgulho LGBTQI+;
  2. Criar um produto com as cores da bandeira do orgulho LGBTQI+;
  3. Formar um ERG, employee resource group, mais conhecido como Núcleo de Diversidade e Inclusão, Grupo Pride, Núcleo Queer ou outros, constituído por pessoas trabalhadoras da organização que advogam pelos direitos de pessoas LGBTQI+ ou que promovem a consciencialização da temática na organização;
  4. Adotar uma linguagem inclusiva, neutra ou não binária (em especial, colocando o “e” no fim das palavras;
  5. Erguer a bandeira LGBTQI+ no seu escritório (publicamente ou privadamente).
 

Se a entidade adotou algum dos passos acima mencionados, e apenas o fez em junho, não se preocupando com quaisquer outras ações ou medidas durante todo o ano, então, MUITO PROVAVELMENTE, a tua organização poderá ser vista como Pink Washer.

Uma organização Pink Washer é uma organização que se aproveita deliberadamente do movimento de libertação da diversidade sexual e de género para fins políticos, que em pouco ajudam à promoção do respeito e inclusão dessa diversidade. São atos dados com o propósito, ainda que bem-intencionado, de mostrar que existe uma cultura de aceitação, respeito e diversidade relativa às questões da orientação sexual, identidade de género, expressão de género e características sexuais.

A verdade, infelizmente, é que a maior parte desses atos não passam mesmo de intenções de mostrar às pessoas que seguem ou compram na marca, que a organização é aliada da causa, quando na prática não adota quaisquer medidas para tal.

 

De onde vem o termo Pink Washer?

O termo Pink Washer é derivado do termo Pinkwashing. Pinkwashing é um termo associado a um ato, enquanto Pink Washer é associado a alguém ou alguma coisa, neste caso, a empresas e organizações.

O termo Pinkwashing surgiu pela crítica a certas organizações que utilizavam uma fita cor-de-rosa em produtos ou serviços como forma de mostrar o apoio a instituições de caridade para o cancro da mama, enquanto na realidade fabricavam e vendiam produtos cancerígenos.

Atualmente, o termo Pinkwashing foi apropriado pela cultura queer para referir-se também a situações em que empresas e organizações, usam deliberadamente os seus logos, marcas, cores, slogans e palavras de ordem para se mostrarem, socialmente, aliadas ou amigas da causa LGBTQI+, quando, na verdade, não possuem quaisquer políticas ou medidas nas suas estruturas ou culturas organizativas.

 

Porque é perigoso ser-se Pink Washer?

Bem, em bom português, costuma-se dizer que “mais depressa se apanha uma pessoa mentirosa do que uma pessoa coxa.” O ditado não podia ser mais verdade. A verdade vem sempre à tona. E pior do que se fazer passar uma imagem que não corresponde à realidade, é perder a confiança e credibilidade de clientes e pessoas trabalhadoras.

As pessoas LGBTQI+ que trabalham na tua organização, que seguem ou consomem produtos ou serviços da tua marca, não o fazem porque criaste um logo às cores, um saco pride, ou um grupo queer que nem sequer respeita a proteção de dados. As pessoas trabalhadoras fazem-no, normalmente, porque precisam do trabalho e não podem dar-se ao luxo de sair, ou, mais raramente, porque se sentem bem a trabalhar na empresa ou organização, sentindo-se aceites por quem realmente são, podendo simplesmente ser e existir, sem preconceitos, sem medos, sem represálias, sem despedimentos, sem ameaças. Por outro lado, pessoas seguidoras ou consumidoras, fazem-no porque precisam do serviço/produto ou porque, ingenuamente, acreditam que a organização é realmente aliada da causa LGBTQI+.

Ora, mascarar algo que não se é, enganar, usar deliberadamente movimentos sociais e políticos para alcançar notoriedade ou reconhecimento social, doar enormes quantias monetárias para associações LGBTQI+ sem haver envolvimento da organização na causa, demonstra uma grande falta de responsabilidade social, bem como uma grande falta de consciência dos problemas reais enfrentados pelas pessoas LGBTQI+. E isso pode ser muito perigoso, por dois motivos:

  • Tornas-te cúmplice na opressão que pessoas queer ou LGBTQI+ sofrem;
  • Continuas a reforçar, indiretamente, sistemas de discriminação e violência cisheteronormativos.
 

Mas isto não interessa para as organizações que não se importam.  A essas, o que lhes importa é o retorno sobre o investimento. E é aqui que a maioria mais se engana. Acham que o pinkwashing é uma forma de parecer ser uma Inclusion Rider Organization, que é o mesmo que dizer, uma organização líder em inclusão, e que isso lhe vai trazer imenso retorno sob o seu investimento.  Balelas!

 

Ser Pink Washer pode afetar negativamente o ROI da empresa

O retorno sobre o investimento obtém-se não só financeiramente como socialmente. Mas para tal é necessário um plano de ação concreto, com medidas estruturais e culturais que o permitam obter a longo prazo.

Os perigos de ser uma organização Pink Washer refletem-se na sociedade global, pois contribuem para perpetuar a discriminação, violência e exclusão laboral e social, uma vez que carecem de medidas práticas concretas que potenciam a inclusão e a consciencialização nestas temáticas.

Por isso, o Pinkwashing contribui, direta ou indiretamente para:

  • perda de talento de alta qualidade;
  • perda de potencial criativo;
  • perda de produtividade (especialmente de equipas onde a diversidade e o respeito por essa mesma diversidade é inexistente ou mínimo);
  • maior custo para área social e da saúde em termos globais;
  • menores receitas fiscais para o Estado.
 

Um estudo antigo realizado pelo Banco Mundial revela que o custo do desrespeito pela comunidade LGBTQI+ é de cerca de 32 bilhões de dólares por ano (equivalente à economia do tamanho da Índia).

Se as empresas e organizações querem realmente ser mais produtivas, eficientes, sustentáveis e felizes, as pessoas LGBTQI+ que nelas trabalham não podem continuar a sentir-se vulneráveis, sub-representadas e incapazes de atingir o seu potencial produtivo.  Em especial, a inclusão de pessoas trans, não binárias, de género diverso, ou de qualquer pessoa que pela sua expressão seja considerada “transgressora” da norma social tem de ganhar lugar na agenda.

A questão que se coloca é:  deve acabar-se com aqueles atos mencionados acima e que categorizamos como sendo pinkwashing? Não. Eles podem, de facto, representar atos positivos em direção a um maior respeito e inclusão da diversidade sexual e de género. Mas tem de existir um contexto, um plano, uma estratégia, medidas concretas e políticas organizativas alinhadas e consistentes. E a solução passa por transformar a tua organização numa verdadeira Inclusion Rider.

 

O que é ser Inclusion Rider?

Se a visibilidade LGBTQI+ nos meios de comunicação social trouxe algo de positivo foi a adoção de práticas mais inclusivas, como o uso de pronomes em assinaturas de email ou apresentações, o uso de uma linguagem sensível a géneros além dos binários, bem como o aumento da procura por ações educativas e formativas para uma verdadeira educação inclusiva. As empresas e organizações perceberam que, ao atrair mão-de-obra diversificada têm muito mais vantagens e benefícios do que não fazê-lo.

O termo Inclusion Rider teve a sua origem na área do entretenimento, supostamente cunhado por Stacy Smith, através da Annenberg Inclusion Initiative No entanto, é no cinema que o termo ganhou mais destaque, onde algumas “estrelas de Hollywood” começaram a forçar as produções a incluir cláusulas nos contratos que sejam inclusivas da diversidade de género e diversidade racial nas suas produções.

Ora, fazendo uma apropriação cultural do termo, ele poderá muito bem ser aplicado a qualquer empresa e organização, seja qual for o setor ou âmbito de atuação. No que interessa à TransParente, que almeja uma visão de um mundo mais inclusivo da diversidade sexual e de género, qualquer empresa ou organização deveria ter políticas, medidas e ações concretas específicas que sejam inclusivas da diversidade de género e da diversidade racial.

Em género de conclusão, uma organização que seja Inclusion Rider é uma organização que procura garantir práticas equitativas que respeitem e incluam a diversidade, adotando uma perspetiva interseccional, transformando a sua cultura e estruturas.

 

Quais as vantagens de ser Inclusion Rider?

Ser considerada uma organização Inclusion Rider, isto é, uma organização que advoga pela inclusão de políticas, medidas e ações concretas que promovem a inclusão da diversidade, seja ela qual for, tendo sempre em atenção as interseccionalidades existentes, é meio caminho andado para a liderança. Uma organização que seja inclusiva não só da diversidade racial, cultural, étnica, religiosa e inclusiva de pessoas com deficiência, bem como inclusiva da diversidade sexual e de género, é uma organização que, sem dúvida, será considerada como:

  • das melhores para se trabalhar;
  • das mais produtivas;
  • das mais criativas;
  • das mais saudáveis;
  • com maior capacidade de ultrapassar crises;
  • com maior capacidade de inovação;
  • líder em diversidade e inclusão.
 

Se és CEO, responsável de gestão, liderança, recursos humanos ou outra área relacionada com a diversidade e inclusão, e percebes as consequências do pinkwashing e os benefícios de ser Inclusion Rider, porque não exigir à tua organização que comece a adotar medidas que sejam mais inclusivas dessa diversidade?

Não sabes por onde começar ou que tipo de exigências fazer?

Contacta-nos.

 

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