Pois é, vivemos em tempos modernos! As manifestações de professores nas ruas têm sido uma constante nos últimos anos mas não é pelo que se esperava. As reivindicações são muitas e entre elas o despedimento de detetives da suposta ideologia de género que têm vindo a substituir cada vez mais professores nas escolas.
E digo suposta ideologia de género porque, ao contrário do que se ouve por aí, e do que muitas pessoas já meteram na cabeça influenciadas por movimentos populistas extremistas, camuflados de salvadores da pátria, da família tradicional e da proteção das crianças, a ideologia de género não existe! Não confundas ideologia de género com identidade de género.
No dia Mundial de Professores que se celebra a 5 de Outubro, trago-te uma notícia de última hora!
Com o aumento de movimentos de pais tradicionais, motivados por crenças religiosas e pelo medo e insegurança espalhados pela desinformação constante nas redes sociais, surge o medo de que os seus filhos vão para a escola e voltem com o vírus da ideologia de género. E nisto claro, quem sofre é quem é ensina nas escolas! Agora, vêm os seus lugares a serem ocupados cada vez mais por detetives da ideologia de género, que pretendem investigar o género das crianças e jovens que ali se encontram para estudar.
Quem detém o dever e a profissão de ensinar nas escolas viu-se cada vez mais numa encruzilhada:
A) ou decidia leccionar com uma arma apontada a cabeça por responsáveis parentais tradicionais e conservadores, que acusam que o ensino está cada vez mais sexualizado devido à educação sexual a que as escolas estão obrigadas desde 2009, ou
B) decidia investigar e inspecionar a identidade de género de crianças e jovens estudantes, denunciando a situação aos movimentos de pais tradicionais e conservadores que os subornavam.
Verdade seja dita, para continuar a leccionar assim e ganhar o mesmo, mais vale de facto deixar-se vender e ser detetive da ideologia de género. Eu faria o mesmo se ganhasse tão mal quanto se ganha a ensinar!
Este bem que podia ser um guião de um filme passado em pleno século 21, só que não! Nada do que foi dito acima é verdade, mas quase parece! Isso é o que acontece na mente de quem todos os dias abre os jornais, noticias e redes sociais e se depara com falsas informações que pretendem espalhar o terror e o medo, usando temas tradicionais como a família, as crianças e o sexo para negar a existência da diversidade de orientações sexuais e identidade de género.
É revoltante! Professores deveriam ensinar certo? E deveriam ensinar cima de tudo os valores fundamentais do respeito pela diversidade, pela diferença. Ao fim ao cabo não há nem nunca haverão duas pessoas iguais. Independentemente das crenças, preferências ou ideologias de quem lecciona e ensina, e independentemente das crenças, preferências, medos e tretas que os papás, mamãs ou responsáveis parentais pertencentes ao movimento #deixemascriançasempaz querem, deveria ensinar-se sobre o respeito, o amor, a compaixão e a aceitação de identidades diversas das suas.
Antigamente, no Portugal tradicional, se a mulher gostava ou não que a sua filha não fosse burra isso não importava para nada. As meninas não iam para o ensino secundário, muito menos à universidade, e ponto final! Ou esquecem-se que a primeira escola feminina de ensino secundário a existir em Portugal apenas surgiu em 1906? Ou seja, à uns meros 117 anos?
E agora dizem por aí as opiniões do Expresso, da autoria da Chris, que há grupos de pais no whatsapp preocupados com a ideologia de género nas escolas? E que este ano, dos 193 pedidos de mudança de nome e menção de sexo no registo civil, 28 eram crianças? Oh Chris, Chris… sabe quantas são as crianças que, muitas vezes por desconhecimento, por não haver adequada educação sexual sobre o que são ou não comportamentos abusivos e o que pode ou não ser tocado no seu corpo, são abusadas física, psicológica e socialmente nas escolas?
Tem sequer noção, Chris, do número assustador de crianças e jovens que desejam por, ou põem fim à sua vida por não conseguirem viver livremente quem são? Por sofrerem exclusão, discriminação e estigma todos os dias da sua vida, na escola e em casa, só por não corresponderem às expetativas?
Por amor ao santo e ao deus que quiserem: deixem a identidade das crianças em paz. Deixam-nas ser simplesmente quem são. Não há mal nenhum que possa vir ao mundo quando uma criança é livre e feliz para ser quem é! Não neguem quem são, não as escondam, não as tentem converter em algo que não são. As crianças não estão preocupadas com a ideologia ou identidade de género estão preocupadas em poderem brincar com quem querem e com o que gostam, vestir o que se sentem bem e serem livres para serem crianças e jovens.
E aquelas leis que muitas escolas, docentes e responsáveis parentais tanto temem, as leis da autodeterminação e a educação sexual nas escolas, não vão ensinar nem como se muda de género ou de sexo, nem como se faz sexo! De uma vez por todas que se entenda isso!
A lei da autodeterminação existe precisamente para proteger aquelas crianças e jovens que, por terem uma identidade de género diversa daquela que a sociedade espera que elas tenham só porque nasceram com determinada genitália, e que são alvo de discriminação, abuso e violência dentro das próprias escolas.
A lei é uma forma de fazer com que as direções das escolas tomem medidas para evitar o bullying, a exclusão, a desistência escolar, os abusos físicos contra as crianças e jovens mais vulneráveis a ataques motivados pelo ódio do desconhecido e do diferente.
Talvez as mães, os pais, e responsáveis parentais devessem parar de se armar também em detetives da identidade de género ou da inexistente “ideologia de género” que ouvem por aí, e se preocupassem mais em combater os estereótipos de género que todos os dias incutem nos seus, que fazem com que estas crianças e jovens sejam torturadas social e psicologicamente pela pressão social à qual estão sujeitas.
É normal que agora todas as pessoas tenham uma opinião e queiram ser ativistas pela defesa da família, da continuidade da espécie humana, dos costumes, das tradições, etc. Mas não esqueçamos que as nossas mentes atuais foram manipuladas durante anos.
Durante anos foi-nos dito que as meninas usam rosa e os meninos usam azul. Que as meninas usam cabelo comprido e os meninos usam cabelo curto. Que meninas usam saia e meninos usam calça. Pois é, só que se agora vivêssemos novamente no século X (na antiga pérsia) ou no sec. XVII (17) na Europa, estava instaurado o CAOS DA IDEOLOGIA DE GÉNERO. Iriamos desejar que os nossos filhos meninos usassem sapatos de salto alto, vestido e cabelo comprido, pois isso era sinal de virilidade, como mostra o retrato pintado por Hyacinthe Rigaud em 1701, mostrando o rei Luis XIV com saltos altos vermelhos.
Se te interessas realmente em saber que tipo de conteúdos são dados às crianças e jovens nas escolas, o infoproduto Educação Sexual no ensino tem informação útil para ti.
Se também te interessas realmente em saber os direitos das crianças e jovens nas escolas em matéria de proteção da sua orientação e identidade de género, o infoproduto gratuito Direito a Ser nas Escolas
Se gostavas de levar um projeto ou ação educativa à escola onde leccionas, onde as tuas crianças ou jovens estudam, ou onde tu estudas, entra em contacto conosco para te mostrarmos a nossa oferta formativa a escola
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Fontes consultadas:
Educação da mulher.pdf
Guia "O Direito a SER nas Escolas" | Direção-Geral da Educação (mec.pt)
Semanário | Transidentidade: A evolução dos géneros (expresso.pt)
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